sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Educação, a base para o desenvolvimento do País


Segundo o estudo "Como os Sistemas Escolares de Melhor Desempenho do Mundo Chegaram ao Topo", realizado pela Consultoria McKinsey (EUA), a qualidade do professor é a alavanca mais importante para melhorar o desempenho dos alunos.
Talita Mochiute
“A qualidade do professor é a alavanca mais importante para melhorar o desempenho dos alunos”. A afirmação é da doutora em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), dos Estados Unidos, Mona Mousherd, que coordenou o estudo Como os Sistemas Escolares de Melhor Desempenho do Mundo Chegaram ao Topo, realizado pela Consultoria McKinsey.
Os resultados da pesquisa foram apresentados na segunda-feira, dia 13/10, durante a Semana da Educação, promovida pela Fundação Victor Civita. O evento tem como objetivo refletir o ensino brasileiro e contribuir com a melhoria da educação.
O estudo analisou quais são os fatores de sucesso dos dez melhores sistemas educacionais do mundo, de acordo com o ranking do Programme for Internacional Student Assessment (PISA) - programa internacional, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o desempenho dos alunos na faixa dos 15 anos em leitura, matemática e ciências.
Um dos fatores é a excelência do quadro docente. Na Finlândia e Coréia do Sul, dois destaques em modelo de ensino, o processo seletivo para professores é concorrido. No país escandinavo, apenas um em cada 10 candidatos é aceito como professor. Já na Coréia a concorrência é de 1 para 6.
Nesses países, o professorado é formado por graduados bem preparados. Na Finlândia, o corpo docente é constituído pelos 5% de melhor desempenho na graduação. Na Coréia, é pelos 10%. Esse índice chega a 30% em Cingapura, outro país com sistema de ensino de sucesso.

No Brasil, ocorre o contrário. Segundo o presidente Executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, presente no evento, o quadro de docentes é composto por alunos mais fracos e com baixo nível econômico. “As nossas universidades não têm vocação para formar professores de educação básica. Quem, como e para que forma? É preciso pensar essas questões e reinventar o processo de formação inicial de professores”, comentou.
Salário dos Professores
Para atrair bons profissionais, os melhores sistemas educacionais investem em política salarial. Finlândia e Coréia do Sul equipararam o salário inicial dos professores com os dos outros setores da economia. “Quando o estudante escolhe uma carreira, compara os salários das diversas profissões. Com o salário inicial alto, a carreira de professor fica mais competitiva”, revelou Mona.
A especialista lembrou ainda que o salário inicial elevado ajuda a manter os professores na carreira. “Nos Estados Unidos, o salto salarial só ocorre no sétimo ano de profissão. Muitos abandonam a cargo no segundo ano em busca de opções mais rentáveis”, afirmou.
O presidente do Todos pela Educação problematizou a associação entre salário e desempenho dos alunos. “Há especialistas brasileiros que dizem que o salário não é importante. Essa variável, salário do professor e desempenho do aluno, é válida para o Brasil?”, perguntou.
Para a secretária de Educação do estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, o problema brasileiro do salário dos professores está relacionada com o “excessivo corporativismo estatal nas carreiras públicas”.  O aumento do salário dos professores leva ao reajuste dos salários dos outros funcionários públicos. “Em São Paulo, temos 240 mil professores da rede estadual e mais de 1 milhão de funcionários públicos”, comentou.
“Não dá para fechar os olhos diante da questão salarial. Precisamos defender melhores salários para os professores no Brasil”, rebateu a secretária de Educação do estado de Goiás, Milca Severino.
Diante das ressalvas, Mona Mousherd reforçou a importância de salários mais competitivos, lembrando da necessidade de campanhas que valorizem a profissão de docente. 
Alunos com o mesmo desempenho
Além do investimento na qualidade do professor, a segunda lição dada pelos melhores sistemas educacionais, segundo Mona, é focar no ensino para a aprendizagem efetiva dos alunos por meio de programas de aperfeiçoamento das práticas pedagógicas.
“Nos melhores sistemas, cerca de três horas da semana são reservadas para o treinamento e o retorno do desempenho aos professores. O intercâmbio entre o professorado é fundamental”, explicou a doutora pelo MIT.
Em Xangai, na China, todos os professores são obrigados a visitar e observar pelo menos oito aulas dadas por colegas em cada semestre. Enquanto isso, na Finlândia, um profissional mais experiente fica no fundo da sala e dá instruções para o professor pelo ponto eletrônico.
Outra conclusão do estudo é que o alto desempenho significa que todas as crianças devem ser bem-sucedidas, não apenas parte delas. Para apoiar os alunos no seu desenvolvimento, os modelos educacionais de excelência realizam avaliação e inspeções na escola, avaliações do sistema todo e exames finais periodicamente.
A obtenção de dados serve para identificar alunos com problemas e direcioná-los a programas de reforço escolar. Na Finlândia, alunos com baixo desempenho são colocados em novas salas e recebem educação especial, oferecida por um grupo multidisciplinar (professores, psicólogos e consultores). Quando superam as dificuldades, volta para sua antiga turma. Cerca de 30% de todos os alunos finlandeses já participaram dessa iniciativa. Na outra ponta, alunos melhores colocados nos exames também recebem atenção especial, recebendo aulas mais avançadas.

Por fim, o último fator de sucesso é o investimento na liderança das escolas. “Esses países procuram selecionar diretores que reúnam excelência de ensino e em gestão”, explicou a doutora pelo MIT. Para qualificar os futuros diretores, em Cingapura, por exemplo, há oferta de curso de administração de seis meses equivalente a cursos oferecidos para profissionais específicos deste setor. “Os gestores também precisam saber dialogar com alunos, professores e com a comunidade”, conclui Mona Moushard.

7 medidas testadas - e aprovadas 

Entender como países em destaque nos rankings de ensino chegaram ao topo é o que mais impulsiona hoje as pesquisas na área de educação. Nenhuma delas foi tão longe quanto um recente estudo da consultoria McKinsey coordenado pela egípcia Mona Mourshed, doutora em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e estudiosa das reformas educacionais em dezenas de países


Durante um ano, uma equipe comandada por ela entrevistou mais de 200 pessoas e visitou 120 escolas em vinte países. Justamente aqueles com resultados mais extraordinários na educação, caso de Cingapura, Coréia do Sul e Finlândia. O maior mérito do trabalho é chamar atenção para práticas comuns a esses países, todas testadas com sucesso na sala de aula. Na semana passada, Mona esteve em São Paulo para falar sobre o estudo a representantes do Ministério da Educação (MEC) e de secretarias de ensino. Ela diz: “Estou certa de que outros países podem se beneficiar dessas práticas a curto prazo e sem gastar muito”. Em entrevista a VEJA, a consultora fala de sete medidas aplicadas com sucesso nos países que estudou — e que podem ajudar também a elevar o nível do ensino no Brasil.

Durante um ano, uma equipe comandada por ela entrevistou mais de 200 pessoas e visitou 120 escolas em vinte países. Justamente aqueles com resultados mais extraordinários na educação, caso de Cingapura, Coréia do Sul e Finlândia. O maior mérito do trabalho é chamar atenção para práticas comuns a esses países, todas testadas com sucesso na sala de aula. Na semana passada, Mona esteve em São Paulo para falar sobre o estudo a representantes do Ministério da Educação (MEC) e de secretarias de ensino. Ela diz: “Estou certa de que outros países podem se beneficiar dessas práticas a curto prazo e sem gastar muito”. Em entrevista a VEJA, a consultora fala de sete medidas aplicadas com sucesso nos países que estudou — e que podem ajudar também a elevar o nível do ensino no Brasil.

Só os melhores ensinam

 
Poucos fatores influenciam tanto a qualidade do ensino em um país quanto o nível de seus professores — daí a relevância de recrutar os mais talentosos. Foi com esse objetivo que países como Coréia do Sul e Finlândia criaram seleções tão rigorosas quanto as de uma grande empresa. A triagem começa na escola.

Só podem concorrer a uma vaga nas faculdades de educação aqueles 10% com o melhor boletim, dado especialmente espantoso diante da realidade de países como o Brasil: os professores brasileiros compõem justamente a turma dos 30% com as piores notas. Para sonhar com um lugar numa dessas faculdades (e muita gente lá sonha mesmo), é preciso ainda passar por provas, entrevistas e aulas demonstrativas devidamente avaliadas por especialistas.

Com tantos filtros na entrada, a experiência aponta para três efeitos positivos: não se desperdiça tempo nem dinheiro na formação de gente sem talento, a qualidade dos cursos aumenta e a carreira de professor, naturalmente, ganha novo status. Nada disso faria mal ao Brasil.


Para cada estudante de pedagogia, um tutor

Em países de bom ensino, ninguém se forma sem antes fazer o básico: entrar numa sala de aula na função de professor. Não se trata de um estágio comum. Os universitários são acompanhados por espécies de tutores, professores experientes cujo papel é orientar os novatos do momento em que se sentam para planejar uma aula até quando corrigem a lição.

Mais do que isso: aos tutores é designada a tarefa de avaliar o desempenho dos aspirantes a professor, corrigir eventuais falhas e ensinar tudo na prática — chance que os estudantes brasileiros raramente têm. A decisão de criar essa função, tomada por governos de diferentes países, ajudou a elevar o nível dos professores recém-formados. Deu tão certo que, em alguns lugares, tais profissionais já são figuras permanentes nas escolas, caso da Inglaterra. Lá, eles não apenas dão consultoria aos principiantes como avaliam, diariamente, o nível geral do ensino.


Tornar atraente a carreira de professor

A junção de duas medidas se revelou eficaz em uma dezena de países. Uma delas diz respeito ao salário inicial dos professores: quando o valor foi igualado ao de outras carreiras, houve um substancial aumento na procura por faculdades de educação. O detalhe é que tais países, entre os quais Coréia do Sul e Cingapura, não reservaram nenhum centavo a mais para a educação.
Eles conseguiram mais dinheiro ao decidir aumentar o tamanho das classes, medida que permitiu enxugar o quadro de professores — e pagar mais aos recém-formados. Esses países não fizeram isso sem consultar as pesquisas. Segundo elas, turmas maiores não prejudicam o ensino de maneira significativa, como apregoa o senso comum.
Por outro lado, um bom salário inicial tem funcionado como poderoso fator de atração de gente talentosa. Isso, no entanto, não é o bastante. Os mais brilhantes só passaram a procurar maciçamente a carreira de professor depois que esses países implantaram sistemas meritocráticos, nos quais os melhores ganham mais dinheiro e responsabilidade e vislumbram no horizonte a possibilidade de exercer diferentes funções, como a de “consultor de currículo” — tão prestigiada quanto a de diretor de escola. 

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